Edição de 08 de agosto de 2025
A semana que se encerra nesta sexta-feira confirmou aquilo que nós, traidores conscientes da nossa própria classe, já vínhamos alertando: o capitalismo internacional decidiu que chegou a hora de apertar ainda mais o cerco sobre os trabalhadores brasileiros. E o mais irônico? Nossos próprios governantes continuam fingindo que existe alguma saída “negociada” para esta encrenca toda, como se estivéssemos lidando com pessoas civilizadas e não com a mais pura expressão da selvageria imperialista.

Tarifaço de Trump: A Guerra Comercial Que Ninguém Queria Admitir
Na quarta-feira (6), oficialmente entrou em vigor o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. Não foi surpresa para quem acompanha este blog, mas aparentemente pegou de calças curtas toda a nossa classe política “estrategista”. Trump não estava blefando. O homem estava falando sério quando disse que ia usar o Brasil como exemplo para outros países do BRICS.
Dos 42,3 bilhões de dólares que exportávamos para os EUA, cerca de 57% agora estão sob essa sobretaxa criminosa. Café, carne bovina, calçados, têxtil – tudo que emprega milhões de brasileiros virou alvo da fúria tarifária do imperador laranja. As únicas exceções foram para setores que interessam ao capital financeiro americano: suco de laranja (porque os ricos de lá não vivem sem), aviões da Embraer (porque serve aos interesses militares) e combustíveis (porque o império não sobrevive sem energia barata).

A Hipocrisia do “Livre Mercado”
Vejam só a beleza da coisa: o país que se diz campeão do livre mercado impõe tarifas de 50% quando não consegue competir de igual para igual. É exatamente o que os economistas honestos sempre disseram sobre o neoliberalismo: as regras só valem quando favorecem os países centrais.
E nosso governo? Mandou o Alckmin para o programa da Ana Maria Braga explicar a situação. Juro que não consigo decidir se isso é mais patético ou mais cômico. Enquanto isso, Trump já deixou claro que só negocia se o STF parar de processar Bolsonaro. Ou seja: para ter “paz comercial”, teríamos que entregar nossa soberania jurídica de bandeja.
Mercados: A Dança das Cadeiras do Capital Especulativo
Apesar de toda essa confusão geopolítica, o Ibovespa fechou a semana com alta de 2,62%. Não se iludam: isso não é sinal de que a economia está bem. É apenas a especulação financeira fazendo o que sempre faz – transferindo renda dos trabalhadores para os rentistas enquanto vendem a narrativa de “otimismo”.
O dólar, por sua vez, recuou 2,20% na semana. Os analistas de plantão estão cantando vitória, como se essa oscilação momentânea mudasse alguma coisa no quadro estrutural de dependência externa que vivemos.

Petrobras: Lucros Recordes, Dividendos Minguados
A estatal que deveria ser nossa, mas que na prática serve aos acionistas privados, reportou lucro de R$ 26,65 bilhões no segundo trimestre. Número impressionante, não é? Mas vejam o que aconteceu na prática: as ações despencaram 5% porque os dividendos ficaram abaixo do esperado pelo mercado.
Traduzindo em português claro: a empresa teve um resultado excelente, mas não distribuiu lucros suficientes para satisfazer a fome dos especuladores. A XP esperava R$ 12 bilhões em dividendos, mas a Petrobras aprovou apenas R$ 8,7 bilhões. A diferença de R$ 3,3 bilhões poderia financiar hospitais, escolas, saneamento básico. Mas não, tem que ir para o bolso de quem já tem demais.

Federal Reserve: A Política Monetária dos Ricos
Nos EUA, o Fed manteve os juros entre 4,25% e 4,50%, ignorando completamente as pressões de Trump por cortes mais agressivos. Jerome Powell mostrou que, mesmo sob pressão política extrema, o banco central americano preserva uma certa autonomia.
Enquanto isso, Trump nomeou Stephen Miran para o Fed, um economista conhecido por defender reformas estruturais no banco central. A mensagem é clara: se não conseguir pressionar o sistema por fora, Trump vai tentar mudá-lo por dentro.
Brasil: Reféns da Política Monetária Alheia
Aqui no Brasil, continuamos com a Selic em 15% ao ano – uma das taxas reais de juros mais altas do mundo. Galípolo e sua turma do Banco Central seguem aplicando a velha cartilha monetarista: se há qualquer sinal de pressão inflacionária, a “solução” é aumentar os juros e ferrar ainda mais com o emprego e a renda dos trabalhadores.Filtro-de-realidade.mdveja.abril+1
O mais absurdo é que essa política supostamente “técnica” na verdade serve perfeitamente aos interesses dos rentistas. Cada aumento de 0,5% na Selic representa cerca de R$ 30 bilhões a mais por ano indo para o bolso dos detentores de títulos públicos. É mais do que o orçamento de muitos ministérios sociais.
Perspectivas: O Que Vem Por Aí
A próxima semana promete mais tensão. Haddad deve apresentar o “pacote de contingência” para enfrentar o tarifaço, que certamente será mais uma coleção de medidas paliativas que não atacam as causas estruturais do problema.
Enquanto isso, o governo brasileiro continua apostando numa negociação que Trump já deixou claro ser impossível nos termos atuais. Lula disse que não vai ligar para Trump, mas na prática continua mandando emissários atrás de uma solução diplomática que simplesmente não existe.
A verdade inconveniente é que estamos vivendo uma reorganização da ordem econômica mundial, e o Brasil está sendo usado como exemplo para outros países que ousam questionar a hegemonia americana. Não há saída “negociada” que não passe pela capitulação completa aos interesses de Washington ou por, enfim, decidir defender a soberania nacional, custe o que custar.
Conclusão: A Lição que Ninguém Quer Aprender
Esta semana confirmou o que já sabíamos: não existe capitalismo “humanizado” ou “social”. O sistema funciona exatamente como foi projetado – concentrando renda, destruindo postos de trabalho e subordinando países inteiros aos interesses das elites globais.
O tarifaço de Trump não é uma aberração ou um “desvio” do livre mercado. É exatamente assim que o imperialismo sempre funcionou: impondo suas regras quando está ganhando e mudando as regras quando está perdendo.
E enquanto nossa elite política continua fingindo que dá para “negociar” com quem nos vê como colônia, milhões de brasileiros vão pagar a conta dessa ilusão com desemprego, inflação e precarização ainda maior.
A única saída real sempre foi a mesma: romper com esse modelo de desenvolvimento subordinado e construir uma economia que sirva ao povo brasileiro, não aos interesses do capital internacional. Mas para isso seria preciso coragem política que nossa classe dirigente simplesmente não tem.
Até semana que vem, quando certamente teremos mais capítulos dessa tragédia anunciada.
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