Vocês acham que Netflix, TikTok e YouTube são entretenimento inocente? Que ingenuidade adorável. Deixem-me contar algo que a classe dominante descobriu há décadas: não precisamos de correntes quando podemos vender as algemas como pulseiras da moda.
Roger Waters não estava fazendo música em 1992 quando criou “Amused to Death” – estava fazendo profecia. O ex-Pink Floyd observou a Guerra do Golfo sendo televisionada como entretenimento e viu o futuro: uma humanidade que literalmente se divertiria até a morte, hipnotizada por telas enquanto o mundo pegava fogo ao redor.

O Ópio Digital das Massas: O Netflix é o Ópio do Povo
Marx disse que a religião era o ópio do povo. Mas os capitalistas são criativos – por que se contentar com uma droga quando você pode criar um catálogo infinito? O entretenimento moderno não é apenas distração; é controle social industrializado.
Neil Postman, o teórico que inspirou Waters, explicou isso com clareza cirúrgica: enquanto Orwell temia uma sociedade controlada pela dor, Huxley previu que seríamos dominados pelo prazer. Adivinha quem acertou? Ninguém precisa queimar livros quando você pode fazer as pessoas esquecerem que eles existem.
A televisão foi apenas o laboratório. Hoje, com algoritmos de dopamina e feeds infinitos, o capitalismo tardio criou o sistema de controle mais sofisticado da história. E o melhor? Vocês pagam para serem controlados e ainda agradecem pela “liberdade de escolha”.
Como Funciona a Fábrica de Conformidade
O truque é simples: transforme tudo em espetáculo. Política vira reality show, guerra vira videogame, protesto vira performance. Quando tudo é entretenimento, nada é levado a sério. É por isso que vocês sabem mais sobre a vida amorosa de influencers do que sobre as políticas econômicas que determinam seu futuro.
Waters percebeu isso observando como a CNN transformou bombardeios em espetáculo pirotécnico. “The Bravery of Being Out of Range” não era apenas uma música – era um diagnóstico: os poderosos fazem guerra à distância enquanto as massas assistem como se fosse filme.
A Sociedade do Espetáculo Chegou ao Seu Smartphone
Guy Debord escreveu sobre a “sociedade do espetáculo” em 1967. Se ele fosse vivo hoje, teria um ataque cardíaco vendo Instagram Stories. O que ele teorizou, o capitalismo tardio implementou com perfeição cirúrgica.
Cada curtida é um voto de confiança no sistema. Cada compartilhamento é propaganda gratuita. Cada hora perdida scrolling é uma hora a menos questionando por que 1% da população possui metade da riqueza mundial.
O traidor da classe ensina: não é coincidência que as redes sociais sejam “gratuitas”. Vocês não são clientes – são o produto. Seus dados, atenção e comportamento são commodities negociadas em bolsas de valores enquanto vocês brigam sobre qual personagem de série é melhor.
A Revolução Será Televisionada (E Monetizada)
Lembram quando disseram que “a revolução não será televisionada”? Pois bem, o capitalismo tardio resolveu o problema: a revolução SERÁ televisionada, mas como entretenimento. Protestos viram conteúdo, resistência vira marca, rebeldia vira nicho de mercado.
Vejam como funciona: jovens se revoltam contra o sistema no TikTok usando iPhones fabricados por trabalho mal pago, vestindo roupas de marcas que poluem o planeta, financiando através de seus cliques as mesmas corporações que criticam. É a perfeita dialética do capitalismo tardio: a rebelião como produto.

A Profecia de Waters Se Concretizou
Em “Amused to Death”, Waters imaginou antropólogos alienígenas encontrando esqueletos humanos agrupados em frente a televisões. Hoje, nem precisamos esperar alienígenas – basta olhar qualquer restaurante cheio de pessoas hipnotizadas por smartphones.
A música “Perfect Sense” ridicularizava uma multidão gritando “tudo faz perfeito sentido expresso em dólares e centavos”. Trinta anos depois, influencers vendem curso de “como monetizar sua paixão” enquanto o planeta derrete e a desigualdade explode.
Waters não estava sendo pessimista – estava sendo realista. O capitalismo tardio descobriu que não precisa reprimir a consciência crítica: basta substituí-la por entretenimento infinito.
O Verdadeiro Custo da Diversão Gratuita
Aqui está o que vocês não percebem: cada série que assistem, cada meme que compartilham, cada vídeo que consomem está financiando o sistema que os explora. A Amazon Prime não é apenas streaming – é uma porta de entrada para o império de Jeff Bezos. A Netflix não vende entretenimento – vende conformidade embalada em binge-watching.
O capitalismo tardio é genial: faz vocês pagarem para serem alienados e ainda se sentirem sortudos por ter “acesso democrático ao entretenimento”. Democrático? Só se sua definição de democracia incluir trabalhar mais para pagar assinaturas de plataformas que vendem seus dados para anunciantes.
A Culpa É do Capitalismo, Não Sua
Mas não se sintam mal – vocês foram criados nesse sistema. O capitalismo tardio investiu trilhões em neurociência, psicologia comportamental e engenharia social para hackear seus cérebros. Algoritmos de recomendação são mais sofisticados que programas espaciais. Vocês nunca tiveram uma chance justa.
O sistema é cruel e vocês não são herdeiros. A diferença é que agora sabem como funciona o jogo. O entretenimento não é neutro – é ideologia embalada em diversão. Cada momento de atenção que doam ao sistema é um voto de confiança na própria opressão.
Já que estamos aqui, vamos aprender as regras. No próximo artigo, vou explicar como a mídia de massa funciona como aparelho ideológico e por que vocês conhecem mais sobre reality shows do que sobre seus próprios direitos trabalhistas.
Palavra Final do Traidor
Lembrem-se: não se trata de paranoia, mas de materialismo dialético aplicado. O capitalismo tardio não precisa de ditadura quando tem TikTok. A próxima vez que abrirem Netflix, perguntem-se: estou relaxando ou sendo reprogramado?
A culpa é do capitalismo, não sua. Mas agora que sabem, a responsabilidade é de vocês.
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