Olá, meus queridos companheiros de opressão estrutural! Hoje vou fazer algo que deveria dar vergonha em qualquer pessoa com um pingo de consciência de classe: ser defensor de bilionário.
Para isso vamos estudar a história de ninguém menos que Bill Gates. O mesmo Gates que tem 138,6 bilhões de dólares enquanto mais de 7,5 milhões de brasileiros vivem com menos de R$ 150 por mês.
Mas calma, antes que vocês me chamem de traidor da classe (bem, já sou mesmo), deixem-me explicar porque este estudo específico é revolucionário – mesmo sendo sobre um cara que provavelmente nunca pisou numa favela.

A Genialidade Acidental
O Que o Capitalismo Não Quer Que Vocês Saibam
Morgan Housel, em seu livro “A Psicologia Financeira” começa o segundo capítulo com uma frase que deveria estar escrita em letras de fogo na porta de cada banco: “Sorte e risco são irmãos”.
Traduzindo para o português da vida real: suas conquistas financeiras não são mérito seu, e suas derrotas não são culpa sua.
Já imaginou se todo coach de LinkedIn soubesse disso? Metade deles teria que procurar emprego de verdade.
A História Que Todo Rico Quer Esquecer
Vamos, então, contar a história de Bill Gates na Lakeside School – e aqui, meus caros, está a lição mais anticapitalista já escrita por um capitalista.
Em 1968, Gates teve acesso a um dos únicos computadores escolares do mundo. A probabilidade? Literalmente uma em um milhão. Mais rara que ganhar na loteria, mais rara que ver político honesto no Brasil.
Mas aqui vem o plot twist que deveria fazer todo neoliberal perder o sono: Kent Evans, o terceiro garoto do grupo que fundaria a Microsoft, morreu num acidente de montanhismo antes mesmo de se formar.
Probabilidade de morrer praticando montanhismo na adolescência? Também uma em um milhão.
Gates teve sorte. Kent Evans teve azar. Simples assim.
Sobre o mito da meritocracia
A nossa dificuldade em identificar o que é sorte, o que é talento e o que é risco é um dos maiores problemas em reconhecer que não existe meritocracia no capitalismo.
Você acha que Eike Batista ganhou/perdeu tudo por (in)competência? Ou que os bilionários da lista da Forbes chegaram lá só por “esforço”?
A verdade é que no Brasil, o 1% mais rico tem rendimento 39,2 vezes maior que os 40% mais pobres. Isso não é mérito, é estrutura. Isso não é talento, é sistema.
A Loteria do Nascimento
Gates nasceu numa família que podia pagar a Lakeside School. No Brasil, isso seria equivalente a nascer numa família que pode pagar Colégio Bandeirantes ou Santo Américo em São Paulo.
É como comparar alguém que nasceu no Morumbi com alguém que nasceu em Cidade Tiradentes. O primeiro vai ter “sorte” com escola particular, cursinho, faculdade paga, estágio no banco do papai. O segundo vai ter “risco” – violência, escola pública sucateada, trabalhar desde cedo.
A diferença não é mérito. É CEP.
A Concentração de Capital Cria “Gênios”
O professor Bill Dougall conseguiu convencer a associação de mães da Lakeside a gastar 3 mil dólares – dinheiro do brechó da escola – para alugar o computador que iniciou a carreira de Bill Gates na informática.
Traduzindo: Um grupinho de playboyzinhos ricos teve acesso à tecnologia do futuro porque as mamães tinham dinheiro sobrando de vender quinquilharia usada.
No Brasil de hoje seria como se um colégio de rico comprasse o primeiro computador quântico para os alunos “brincarem”. Enquanto isso, escola pública não tem nem internet que preste.

As Lições Que Todo Anticapitalista Deveria Aprender
Lição 1: Pare de Se Culpar (E de Culpar Os Outros)
Quanto mais extremo o resultado, menos provável que você possa aplicar suas lições à sua própria vida.
Para de ficar se comparando com Jorge Paulo Lemann ou se culpando por não ser o próximo unicórnio tech. Esses caras são casos extremos – tiveram sortes extremas, recursos extremos, oportunidades extremas.
Você não falhou. O sistema não foi feito para você vencer.
Lição 2: Entenda Que o Jogo É Viciado
Foque em “padrões amplos” em vez de casos extremos.
O padrão amplo no Brasil é desigualdade estrutural. 63% da riqueza mundial está nas mãos de 1% da população. Não é coincidência, é projeto.
Lição 3: Diversifique Sua Estratégia de Sobrevivência
Como bom Traidor da Classe, vou ensinar vocês a usar as ferramentas do sistema contra ele mesmo:
Diversificação financeira no Brasil:
- Mantenham reserva de emergência (porque o risco de desemprego é real)
- Invistam em educação (única forma de mobilidade social que sobrou)
Diversificação temporal:
- Aportem todo mês, independente do cenário político
- Não esperem o “momento certo” (ele nunca vem para quem nasceu na classe trabalhadora)
A Hipocrisia Necessária (E Por Que Ela Vale a Pena)
Vou ser honesto com vocês: é meio constrangedor citar um livro sobre comportamento financeiro quando sabemos que 14,7 milhões de brasileiros saíram da insegurança alimentar severa entre 2022 e 2023 graças a política pública, não a “psicologia financeira”.
Mas aqui está o ponto: se vocês precisam navegar neste sistema de merda, pelo menos façam isso de olhos abertos.
Gates não é gênio. É sortudo com capital inicial.
Vocês não são fracassados. São vítimas de um sistema estruturalmente injusto.
Mas já que estamos aqui, vamos aprender as regras do jogo.
A Revolução Começa na Consciência


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