Meus queridos companheiros de luta, hoje vou ensinar vocês uma das lições mais amargas que aprendi em meus 50 anos navegando pelas águas turvas do capitalismo brasileiro: às vezes, para sobreviver no sistema, você precisa fingir que é burro.
Eu sei, eu sei. Parece humilhante, vai contra tudo que nos ensinaram sobre meritocracia e “quem se esforça consegue”. Mas deixem o tio aqui contar uma verdade que Robert Greene e Arthur Schopenhauer já sabiam muito antes de vocês nasceram: o sistema não premia os inteligentes, premia os que sabem jogar o jogo.
Então peguem um cafezinho, sentem-se confortavelmente e vamos descobrir juntos por que fingir-se de burro pode ser sua estratégia mais inteligente para sobreviver no capitalismo — enquanto planejamos secretamente sua destruição.
A Lei Nº 1 das Leis do Poder: Não Ofusque o Brilho do Mestre
Robert Greene, esse maquiavélico genial, abriu seu famoso livro “As 48 Leis do Poder” com uma lei que faz todo liberal de primeira viagem espumar pela boca: “Nunca ofusque o brilho do mestre. Faça sempre com que as pessoas acima de você se sintam confortavelmente superiores”.
O Caso Nicolas Fouquet: Quando Ser Brilhante Te Mata
A história é deliciosa e brutal ao mesmo tempo. Nicolas Fouquet, ministro das Finanças de Luís XIV, cometeu o pecado capital de organizar uma festa tão espetacular que fez o próprio rei se sentir um mero mortal. Como um pássaro que voa alto demais e tem suas asas queimadas pelo sol, Fouquet foi preso no dia seguinte e passou o resto da vida na cadeia.

A lição? O jovem rei não suportou ser eclipsado por um subordinado. É como um técnico de futebol brasileiro que demite o craque que faz gols demais — o ego ferido do chefe sempre vence o mérito do funcionário.
Galileu: O Mestre da Bajulação Inteligente
Do outro lado, temos Galileu Galilei, que descobriu as quatro luas de Júpiter mas foi esperto o suficiente para nomeá-las de “Estrelas Mediceanas” — uma homenagem à família que o sustentava. Como um sambista experiente que conhece o ritmo da roda, Galileu transformou sua descoberta revolucionária em um elogio aos poderosos.
Resultado? Proteção, dinheiro e liberdade para continuar suas pesquisas. Enquanto Fouquet apodreceu na prisão, Galileu morreu rico e respeitado.
Schopenhauer e a Arte de Fingir-se de Burro
Agora entra nosso queridinho pessimista alemão, Arthur Schopenhauer, que aos 50 anos (coincidentemente minha idade atual) sistematizou algo que eu aprendi da forma mais dolorosa possível: demonstrar superioridade intelectual desperta inveja e ressentimento nas pessoas.
A Psicologia da Inveja Intelectual
Schopenhauer observou que “não há nada do que um homem se orgulhe mais do que sua habilidade intelectual” (o brasileiro, em regra, prefere outra habilidade, mas a analogia ainda serve). E aqui está o pulo do gato: quando você demonstra que é mais inteligente que alguém, essa pessoa não sente admiração — sente inveja.
É como mostrar seu salário para o colega de trabalho que ganha menos: mesmo que você tenha trabalhado mais, estudado mais, se dedicado mais, a reação não será “parabéns”, será “esse filho da p* teve sorte”.
O Método Schopenhauer na Prática Brasileira
O filósofo alemão recomendava fingir-se de burro quando forçado a conviver com pessoas inseguras. Não é questão de se diminuir, é questão de sobrevivência.
Imaginem vocês chegando numa reunião corporativa brasileira e citando Marx, Gramsci ou até mesmo dados econômicos complexos. Você não será visto como competente — será rotulado como “esquerdista maconheiro” ou “intelectual metido”.
A Cruel Realidade do Mercado de Trabalho Brasileiro
Aqui no Brasil, essa dinâmica ganha contornos ainda mais perversos. Nosso país, com sua herança colonial e estrutura de classes cristalizada, pune brutalmente quem ousa quebrar a hierarquia estabelecida.
O Chefe Brasileiro Médio: Um Estudo de Caso
Pesquisas mostram que 8 em cada 10 brasileiros pedem demissão por causa do chefe. Por quê? Porque o chefe médio brasileiro é, geralmente, alguém que chegou ao poder mais por conexões familiares ou corporativas do que por competência.
Esse chefe sabe, no fundo da alma, que não merece estar onde está. E quando um subordinado demonstra mais conhecimento, mais capacidade, mais visão estratégica, o chefe entra em pânico.

A Dinâmica do Poder Corporativo
É como aqueles organogramas que vocês veem nas empresas: CEO no topo, diretores, gerentes, coordenadores, analistas. Uma pirâmide perfeita onde cada nível existe para proteger o nível superior de qualquer ameaça à sua posição.
O sistema não foi desenhado para premiar mérito — foi desenhado for manter a hierarquia.
Como Aplicar Essas Estratégias Sem Perder a Alma
Agora, meus queridos futuros revolucionários, chegamos à parte prática. Como usar essas estratégias sem se tornar um capacho do sistema?
1. A Bajulação Estratégica
Como um acordeonista que toca suave no fundo enquanto o cantor principal brilha, aprenda a fazer seu chefe parecer mais inteligente. Faça perguntas que permitam a ele compartilhar sua “sabedoria”. Atribua suas melhores ideias a ele quando estiver em público.
Lembrem-se: não estamos fazendo isso porque acreditamos no sistema — estamos fazendo porque precisamos sobreviver dentro dele.
2. Os Erros Estratégicos
Cometam pequenos erros inofensivos que deem oportunidade para o chefe “ensinar” algo. É como deixar o pai ganhar no dominó — todos sabem quem é mais hábil, mas o respeito hierárquico é mantido.
3. A Inteligência Disfarçada
Apresentem ideias complexas de forma simples, sempre creditando ao chefe a “inspiração” inicial. Como um bom auxiliar técnico que deixa o treinador levar toda a glória da vitória.
A Crítica Anticapitalista por Trás da Estratégia
Mas não se enganem, camaradas. Essa não é uma defesa do sistema — é uma admissão de sua natureza perversa.
Por Que o Sistema Pune a Inteligência
O capitalismo não pode permitir que os verdadeiramente capazes ascendam baseados apenas no mérito, porque isso ameaçaria toda a estrutura de poder baseada na herança, no capital acumulado e nas redes de influência.
Vivemos em uma ditadura do capital, onde a inteligência genuína é vista como ameaça à ordem estabelecida.
A Meritocracia É Um Mito
“Quem quer, consegue” é o maior conto de fadas do capitalismo, como eu sempre digo. A verdade é que quem tem capital inicial, consegue. Quem tem a rede certa de contatos, consegue. Quem sabe fingir-se de burro na hora certa, pode conseguir.
Casos Brasileiros: Quando a Hierarquia Vence o Mérito
No Futebol Brasileiro
Quantas vezes vocês já viram um técnico brasileiro demitir ou deixar no banco um jogador tecnicamente superior? Não porque o jogador é ruim, mas porque ele “não respeita a hierarquia” ou “questiona demais as decisões”.
Na Política Nacional
Observem como funciona a política brasileira: assessores brilhantes são mantidos na sombra enquanto políticos medíocres ocupam os holofotes. Quem ousa brilhar mais que o chefe político rapidamente vira “persona non grata”.
No Ambiente Acadêmico
Até nas universidades brasileiras essa dinâmica opera: professores orientadores que se sentem ameaçados por orientandos mais capazes, pesquisadores que sabotam colegas mais produtivos.
A Sabedoria Popular Brasileira Sempre Soube Disso
Nossa cultura popular está repleta de ditados que confirmam essas verdades:
“Águia que voa muito alto, o sol lhe queima as penas”
“Quem muito se mostra, pouco se aproveita”
“Galo que canta fora de hora vira canja na panela”
Como diz a sabedoria do cordel nordestino: a humildade inteligente é mais poderosa que o orgulho burro.
O Paradoxo: Sendo Anticapitalista Dentro do Capitalismo
E aqui chegamos ao paradoxo central, meus queridos: como ser anticapitalista no sistema capitalista?
A Resposta É Estratégica
Não existe pureza no capitalismo. Vocês vão ter que sujar as mãos, usar as regras do jogo, fingir-se de burros quando necessário. A questão é fazer isso conscientemente, como autodefesa, não como adesão.
Aprender as Regras Para Mudá-las
Como um capoeirista experiente que usa a força do adversário a seu favor, o anticapitalista inteligente transforma a vaidade alheia em sua própria proteção e alavancagem.
Você precisa conhecer as engrenagens do capitalismo para poder sabotá-las efetivamente.
Exceções à Regra: Quando É Hora de Brilhar
Greene e Schopenhauer identificaram algumas situações onde essas regras podem ser relaxadas:
1. O Superior em Declínio
Como um técnico de futebol já com o cargo ameaçado, quando seu superior está claramente perdendo poder, você pode acelerar discretamente sua queda superando-o em momentos-chave.
2. A Estrela Cadente
Se o superior está prestes a cair naturalmente, como um político no final do mandato sem chance de reeleição, deixe a natureza seguir seu curso.
3. Planejamento de Longo Prazo
Seja como um jogador paciente — se você tem certeza de que é superior, mas seu chefe ainda é forte, espere o momento certo.
A Aplicação Prática: Um Guia de Sobrevivência
No Ambiente Corporativo
- Nunca corrija seu chefe em público (mesmo quando ele falar besteira)
- Atribua suas melhores ideias a ele (pelo menos publicamente)
- Faça perguntas que permitam a ele “ensinar” algo
- Cometa erros pequenos e inofensivos que deem oportunidade para ele brilhar
Na Vida Pública
- Não cite autores que seu interlocutor claramente não conhece
- Use linguagem simples mesmo para conceitos complexos
- Deixe a outra pessoa chegar às conclusões (mesmo que você tenha plantado as ideias)
Nas Relações Sociais
- Adapte seu vocabulário ao ambiente
- Não demonstre todo seu conhecimento de uma vez
- Faça as pessoas se sentirem inteligentes ao conversar com você
A Lição Final: Sobrevivência e Revolução
No final, essa não é uma lição sobre como ser conformista. É uma lição sobre como sobreviver tempo suficiente para fazer a revolução que precisamos.
O poder político é produto do poder econômico, e enquanto não conseguimos mudar a base material da sociedade, precisamos aprender a navegar nas águas traiçoeiras do capitalismo.
A verdadeira maestria dessa estratégia está em fazer com que você ganhe no longo prazo: o superior mantém sua sensação de superioridade e segurança, enquanto você conquista sua confiança, proteção e, eventualmente, seu próprio poder.
O Objetivo Final
É como plantar uma árvore — você pode não colher os frutos imediatamente, mas com paciência e estratégia, eventualmente desfrutará da sombra e dos frutos de sua sabedoria.
Essa lei não nos ensina a sermos pequenos, mas a sermos sábios. E a sabedoria consiste em reconhecer que vivemos num sistema profundamente desigual e perverso, onde a inteligência bruta raramente é recompensada.
Como diz o ditado: “Quem sabe, sabe; quem não sabe, é chefe” — mas quem realmente sabe, deixa o chefe pensar que sabe mais.


Deixe um comentário